quarta-feira, 29 de julho de 2009


Por trás daquela janela Cuja cortina não muda Coloco a visão daquela Que a alma em si mesma estuda No desejo que a revela.

Não tenho falta de amor. Quem me queira não me falta. Mas teria outro sabor Se isso fosse interior Àquela janela alta.

Porquê? Se eu soubesse, tinha Tudo o que desejo ter. Amei outrora a Rainha, E há sempre na alma minha Um trono por preencher.

Sempre que posso sonhar, Sempre que não vejo, ponho O trono nesse lugar; Além da cortina é o lar, Além da janela o sonho.

Assim, passando, entreteço O artifício do caminho E um pouco de mim me esqueço Pois mais nada à vida peço Do que ser o seu vizinho.

Fernando Pessoa in Cancioneiro

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