Vejo uma igreja, um sinal de glória
Vejo um muro branco e um vôo pássaro
Vejo uma grade e um velho sinal
Quando eu falava dessas cores mórbidas
Quando eu falava desses homens sórdidos
Quando eu falava desse temporal
Você não escutou
"Caminhando te encontro fácil pela rua Te vejo nos prédios e fachadas, Tu aberta mostras o sol, mostras a lua, Tu fechada, não me mostras nada..." Marco Ramos
Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!
Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...
Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...
Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!
Mário Quintana
DOMINGO
"A consciência é uma fenda pela qual espiamos a realidade".
Domingo é o dia em que o sol rege a consciência. O astro brilhante é também a representação da alegria. Quando estamos desconectados do momento o domingo pode se transformar no mais melancólico dos dias, pois seu simbolismo exige atividade, clareza, percepção, presença.
Se o domingo ressoa mesmo essa vibração é um desperdício tremendo passarmos o dia sem planos, sem aventuras, sem encontros.
A melhor forma de aproveitar a energia subjacente do domingo, que foi feito sob medida para recarregar nossas baterias, é programar um dia sem preocupações, com amigos, em contato m a natureza, artes e troca de histórias divertidas.
Os povos antigos consideravam Saturno o guardião dos limites do universo. É a compreensão do fim de ciclos, como a semana que termina. É o momento do balanço das realizações. É também momento de recolher-se. É o dia do repouso, que gerou o sabbatum romano, que finalmente nomeou o sábado.
É o dia da apreciação. Sábado é o dia da evocação do mais sublime, do mais justo, da tolerância para passar pelos percalços e da aceitação para superar as intempéries.
Daquilo que não pode ser mudado devemos tirar a lição que deve ser aprendida. Nenhuma semente é perdida. Pensar é mudar e quem muda cura a si mesmo.
Se prestarmos atenção, cada dia vai representando um movimento especial de ciclos de vida. Se seguíssemos o fluxo da sabedoria dos dias levaríamos nossa existência bem mais alertas, desfrutando cada passo, reconhecendo cada encontro, permitindo que o melhor de nós aflore nas trilhas iluminadas de cada santo dia.
SEXTA – FEIRA
"A beleza é o divino habitando a vida".
Para os nórdicos a sexta é a representação de Freya, deusa da sensualidade (Friday em inglês), assim como está dentro do arquétipo da Vênus romana (viernes em espanhol e vendredi em francês), que inspira tudo que está ligado ao amor, à ??beleza e às artes.
A sexta é o momento de se preparar para o final de semana. Contemplar a beleza, apreciar a arte, afinar o espírito. Mirar-se através de olhos amorosos e perceber o que há de melhor em nós. Os confrontos e conflitos já foram resolvidos na terça. Sexta é o dia da entrega, de saborear a graça divina da vida.
QUINTA – FEIRA
"A sabedoria é um estranho caminho que busca conhecer a própria ignorância".
Quem sabe o único grande propósito em percorrer tantas experiências seja aprender sobre quem somos e o que representamos. Diferenciar o ilusório do real é como desvelar um véu de enganos e deter o fluxo narcótico que nos lança à sensação de uma felicidade sem fim ou de um sofrimento que não acaba mais. A existência é o exercício de ser feliz ou sofrer alternadamente, porém a vida, que á a face perene da transitoriedade da existência, é a compreensão que não há sentido em desejar o elogio ou repudiar a crítica.
Quinta (jueves em espanhol, jeudi em francês) está no arquétipo de Júpiter na tradição greco-romana, o deus supremo, onde repousa toda a sabedoria, a justiça e a força. Para os nórdicos também representa esses valores através do deus do trovão, Thor, que deu origem à thursday em inglês. É momento de recorrer aos princípios da própria espiritualidade e elevar a consciência. As ações de quarta devem ser vistas sob a luz dos propósitos inspiradores de quinta.
Mercúrio tinha asas nos pés e era o mensageiro divino na mitologia romana. E é Mercúrio que nomeia a quarta feira (miércoles em espanhol, mercredi em francês, mercoledí em italiano). É por isso que a ressonância da quarta é a da comunicação. É um excelente dia para ler, estudar, escrever, pesquisar, enfim tudo que está ligado à intelectualidade.
Também é o dia da expressão, do agito, da rapidez, da objetividade. Depois do planejamento da segunda e das resoluções da terça é hora de colocar o bonde na rua e fazer tudo acontecer. Porém, é bom não perder de vista os cuidados consigo mesmo, com o corpo e com a mente. Cuidar da terra e do céu.
SEGUNDA – FEIRA
"Não tenhas pressa, aonde tens que ir é só a ti mesmo".
O dia da lua (lunes em espanhol, lunedi em italiano e somvar em sânscrito) aparece como primeiro na semana de trabalho . Em contraposição à expansividade do sol, a lua é um convite à interioridade. Estar em sintonia com nossa própria intimidade, sem aceleração, sem agitação. A freqüência lunar é semelhante às ondas alfa do cérebro, onde há um nível maior de percepção e genialidade, porém essa sensibilidade precisa de proteção.
Evitar lugares movimentados e sobrecarga de atividades é a recomendação para o planejador, que compõe o arquétipo da segunda feira. Intimidade é a palavra chave. Isso significa voltar-se para dentro, ir à busca de si mesmo. Planejar é decidir, ou seja, escolher por que caminhos se vai seguir. Isso não quer dizer que podemos definir tudo que ocorrerá pelo caminho, contudo essa definição já, por si só, coloca em movimento uma nova roda da vida.
É por isso que a segunda feira é um excelente dia para o cultivo da meditação, da contemplação, para escrever um diário, para refletir sobre o que se deseja e como fazer para se transmutar a realidade do que está para o que se busca. Se dedicássemos pelo menos a segunda feira para revisar e repensar nossa jornada, que outros percursos, ainda não percebidos, poderíamos trilhar? Como diz o poeta, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar.