Por trás daquela janela Cuja cortina não muda Coloco a visão daquela Que a alma em si mesma estuda No desejo que a revela.
Não tenho falta de amor. Quem me queira não me falta. Mas teria outro sabor Se isso fosse interior Àquela janela alta.
Porquê? Se eu soubesse, tinha Tudo o que desejo ter. Amei outrora a Rainha, E há sempre na alma minha Um trono por preencher.
Sempre que posso sonhar, Sempre que não vejo, ponho O trono nesse lugar; Além da cortina é o lar, Além da janela o sonho.
Assim, passando, entreteço O artifício do caminho E um pouco de mim me esqueço Pois mais nada à vida peço Do que ser o seu vizinho.
Fernando Pessoa in Cancioneiro
Não tenho falta de amor. Quem me queira não me falta. Mas teria outro sabor Se isso fosse interior Àquela janela alta.
Porquê? Se eu soubesse, tinha Tudo o que desejo ter. Amei outrora a Rainha, E há sempre na alma minha Um trono por preencher.
Sempre que posso sonhar, Sempre que não vejo, ponho O trono nesse lugar; Além da cortina é o lar, Além da janela o sonho.
Assim, passando, entreteço O artifício do caminho E um pouco de mim me esqueço Pois mais nada à vida peço Do que ser o seu vizinho.
Fernando Pessoa in Cancioneiro